Todo gestor precisa tomar decisões em ambientes e situações de incerteza, e isto acontece o tempo todo! Podem ser decisões simples e triviais, sobre onde ir almoçar; decisões estruturais, sobre escolha de máquinas e equipamentos; ou decisões estratégicas, como onde montar a estrutura física para trabalhar, contratação da equipe e escolha de sucessores, que requerem conhecimento de produto, de mercado ou da concorrência. Todas elas podem afetar poucas pessoas ou até mesmo milhares ou milhões delas. Quando o processo de tomada de decisões tem o condão de poder afetar a sobrevivência e a continuidade da empresa, nada melhor do que poder contar com um Conselho Consultivo ou um Conselho de Administração para discutir temas complexos que gerem desdobramentos importantes com maior profundidade.
Estudei em profundidade este tema quando cursava meu Mestrado em Administração na FEA-USP, e tive o prazer de ter aulas na época, em 1989, com o professor Doutor Alexander Bernt. O nome da disciplina era “Tomada de Decisão na Incerteza aplicada à Administração”. Aprendemos sobre árvore de decisão e cálculos estatísticos e probabilísticos, que acabaram sendo úteis em diversas atividades no futuro, como na criação do meu Jogo de Empresas para formação e reciclagem de gestores de redes de franchising. Registrei direitos autorais e várias pessoas tentaram copiá-lo sem êxito, pois ele se baseia em algoritmos e estrutura de dados, um conhecimento matemático avançado que não é de uso comum. Assim, formamos alguns dos melhores gestores de franchising do Brasil.
Por outro lado, já tentei no passado usar este conhecimento na seleção de uma secretária executiva no nosso escritório de consultoria. Entrevistei umas 40 pessoas, apliquei diversos testes e aprovei uma moça brasileira que tinha acabado de retornar da Europa. Ela falava com fluência, inglês, espanhol e italiano, digitava o teclado com os 10 dedos e conseguia ao mesmo tempo falar ao telefone, um verdadeiro trator. Ela pediu demissão depois de trabalhar por uma semana, pois achava que tinha pouca coisa para fazer!
Neste ponto, retornamos à pergunta: como o Presidente Executivo ou CEO pode tomar decisões com o apoio de aconselhamento externo? Consultores pode ajudar em momentos pontuais. No entanto, nada melhor do que contar com Conselhos Consultivos ou Conselhos de Administração, que conseguem ver o filme e não apenas a fotografia de um momento no tempo.
Conheci no passado o franqueado Master Brasil da Renaissance Executive Forums – REF, uma rede de origem norte-americana que organiza fóruns executivos. Há muitos anos eles reúnem mensalmente os donos e principais executivos de grandes empresas para trocas de experiências num formato denominado Peers Advisory Board. Ou seja, organizam grupos de até 12 profissionais de setores não concorrentes diretos entre si e seguem uma metodologia, sendo o coordenador e mediador de cada grupo um franqueado. A empresa já possuía alguns grupos operando em São Paulo e demonstrou interesse em abrir um grupo em Curitiba, minha cidade-sede. Acabei me dispondo a ajudar, convidei algumas dezenas de presidentes de empresas num hotel 5 estrelas da minha cidade e fizemos uma reunião.
Uns 20 minutos depois de iniciada a reunião, entrou na sala um participante de um dos grupos de São Paulo.
A entrada dele na reunião já estava combinada pelo franqueado master, porém eu não tinha esta informação e fiquei agradavelmente surpreso com o que presenciei, aquele conhecimento tácito que ninguém tira!
Era o presidente de um dos maiores conglomerados do setor de comunicação do Brasil! Ele residia no Rio Grande do Sul e deixou claro que havia cancelado outros compromissos e tinha pago ele mesmo a passagem para estar presente em Curitiba naquele dia. Informou que frequentava o grupo em São Paulo há mais de 10 anos, e não perdia nenhuma reunião! Naquele momento, atiçou a curiosidade de todos os presentes: afinal, o que seria tão importante a ponto daquela celebridade empresarial dar tamanha importância aos encontros mensais?
Ele nos contou que a empresa da família foi fundada por um tio. Num determinado momento, contrataram uma empresa especializada em sucessão empresarial e que dispunha de uma metodologia para separar herdeiros dos sucessores, aliás algo que também dispomos. Disseram que um jovem na faixa dos 17 anos seria o sucessor natural do tio: era a pessoa que estava ali, presente na sala! Ele disse não ter tido noção na época da razão para esta escolha: afinal, não tinha nenhuma formação ou experiência em negócios, estava mais para surfista do que para empresário! Mas a consultoria insistiu e assim ele começou a receber alguma formação pensando em uma necessidade futura do grupo.
Qual foi a surpresa quando ele nos contou que, passados uns 3 anos daquela data, o tio dele teve um infarto fulminante na sua mesa de trabalho, diante de vários executivos, e faleceu na hora. E o narrador estava presente! Isto gerou um trauma que passou a acompanhar a todos desde o ocorrido.
Logo em seguida, para dirigir a empresa, na ausência de outra alternativa, colocaram o tal jovem no cargo! Ele estava basicamente despreparado, porém contava com um trunfo, que era ser membro da REF! Como uma das primeiras decisões, o grupo precisava contratar um presidente executivo. E havia um forte candidato, um economista com grande experiência, inclusive em nível governamental, mas que não tinha experiência alguma no setor de comunicação. Naquele momento, ele convocou os membros do Conselho que participava para uma reunião extraordinária! “Parecia uma reunião dos Cavaleiros da Távola Redonda”, disse ele! Ouviu atentamente a ponderação dos colegas, na verdade pares, e tomou a decisão de contratar o alto executivo. Foi a partir desta decisão acertada que o grupo deu uma guinada e se tornou uma das maiores empresas de seu setor no Brasil!
Eternamente grato, adotou a REF e o formato de organização. Ele nos contou uma história extraordinária! Não o famoso storytelling inventado tão comum nos tempos atuais, e sim algo que mudou sua vida e o destino de sua empresa para sempre.
Imediatamente e na sequência a este relato, 8 presidentes toparam montar um grupo em Curitiba. Passados alguns meses, foi fechado o quórum, um ex-presidente da Browse Ricardo Cipullo se dispôs a coordenar o grupo, que opera até hoje!
Este episódio demostra diferentes formas de aconselhamento de gestão que podem ser oferecidos a dirigentes de empresas.
A reunião de Curitiba foi tomada num cenário de incerteza, contou com o ímpeto empreendedor meu e do franqueado Master, e acabou proporcionando uma experiência “pro bono” para mim e trazendo resultados extraordinários para a REF e os participantes do grupo de Curitiba.
Este tipo de experiência que envolve aconselhamento de gestão em caráter contínuo foi fundamental para minha decisão de somar a participação em Conselhos ao meu trabalho na qualidade de Consultor de Empresas, nesta minha fase de vida aos 56 anos!
Daniel Alberto Bernard, economista e Mestre em Administração pela FEA-USP, atua como consultor especializado em crescimento e desenvolvimento de empresas há 35 anos, e é membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Paraná e da Board Academy.