As empresas estão expostas a ambientes mais dinâmicos e competitivos a cada dia. Há muito tempo a concorrência não é mais somente a do vizinho, ela ocorre em nível global. Para ser a melhor opção ou ao menos se posicionar entre as 3 melhores opções (Top 3) nos mercados onde opera, e ser considerado pelo cliente, é preciso encontrar maneiras de aprimorar em caráter contínuo sua eficiência, produtividade e desempenho geral, não sendo incomum o concorrente estar sediado na China, na Europa, nos EUA ou em qualquer outro lugar do mundo.
Inovações são parte integrante de toda “learning organization”, compreendidas como organizações que promovem a aprendizagem contínua, e que formam “lifelong learners”. Por outro lado, negócios que permanecem com os mesmos produtos, mesmos processos e mesma comunicação ao longo dos anos existem, mas são a cada dia mais raros, visto que os ciclos de vida estão a cada dia mais curtos e intensos. Assim, a busca pelo novo se torna uma busca constante, tornando obsoletas as opções anteriores, lembrando ser esta uma das principais motivações de compra dos consumidores.
Muitas “startups” são nativas digitais e possuem “mindset” voltado para inovações que aumentam a eficiência e produtividade de produtos e processos. Por outro lado, para o crescimento e desenvolvimento de negócios em rede, a busca é por negócios escalonáveis, portanto classificados como “scaleups”.
A adoção maciça de tecnologia e mecanismos de inovação podem ser capazes de otimizar as estratégias de negócio. Isso foi potencializado pelo novo cenário gerado pela pandemia da Covid-19, quando a incerteza atingiu seu ápice histórico, fazendo com que a transformação digital tenha se tornado uma prioridade para empresas de todos os setores. A velocidade de adaptação aos novos tempos foi fator crítico para a sobrevivência e sucesso das organizações.
O case de sucesso da Arezzo foi emblemático neste sentido. Atento às notícias e percebendo a chegada de uma crise sem precedentes, Anderson Birman alertou a tempo seu filho Alexandre a levantar o máximo de recursos junto a bancos em março de 2020. Subiu na árvore quando veio o dilúvio e digitalizou o trabalho de seus vendedores em tempo recorde, de modo que conseguiram atender pedidos de seus clientes mesmo a portas fechadas, se recuperando mais rapidamente do que seu mercado em geral. Com recursos sobrando, foram às compras e investiram na Reserva, formando o maior grupo de moda no Brasil.
Segundo definição da FINEP, “Inovação é a implementação de um produto, bem, serviço, processo ou método novo ou significativamente melhorado, contribuindo com os resultados dos negócios”. Ora, nem toda inovação é uma invenção, sendo mais fácil descobrir do que inventar. No INPI, é possível registrar PI (Patente de Invenção) ou MU (Modelo de Utilização), dentre diversas modalidades. A Elemídia – mídia em elevadores é exemplo de empresa que não inventou nem o elevador nem o computador, mas conseguiu registrar uma patente de MU e a vendeu para o Grupo Abril por cifras milionárias.
André Campos, instrutor da Board Academy, define inovar como o processo de transformar novas ideias em resultados concretos. Inovações podem varias e termos de impacto e foco. Podem ser radicais, como foi o caso da invenção do Iphone, e que mudaram o cenário do segmento de telecomunicações; podem ocorrer de modo incremental, como é o caso da Gillette ou da caneta BIC, um belo exemplo de evolução, complementação, disponibilização de melhorias de um produto ou serviço já existente; e podem ser até mesmo disruptiva, criando uma nova forma de atender uma necessidade de modo escalável. Assim:
– Uber é a maior empresa de taxi e não tem carros
– Ali Babá é a maior empresa de varejo e não tem estoque
– Netflix é a maior empresa de streaming e não tem cabos
– AirBNB é a maior empresa do ramo hoteleiro e não tem imóveis!
Inovação podem ser aplicadas no que fazemos, como fazemos, como ganhamos dinheiro e como nos relacionamos corporativamente. Inovações podem se aplicar a produtos e serviços e gerar novas funcionalidades, maior desempenho e margens de lucro extraordinárias; podem fomentar novos métodos de trabalho; alinhamento entre talentos e ativos, marca e canais de venda e de distribuição; e maior engajamento e conexões de rede para criar valor. São as chamadas inovações de foco, processos, negócios e gestão.
Muitas inovações envolvem informatização de processos, porém nem toda inovação tem base tecnológica. Jogos de Empresas para formação e reciclagem de executivos como o que tenho direitos autorais reservados (In Company: o Jogo da Franquia) podem sistematizar sem necessariamente digitalizar processos, pois pode considerar a interação da equipe como um critério de avaliação.
Transformação digital é o processo de mudança nos processos, produtos, serviços e na relação com seus colaboradores, através da aplicação de novas tecnologias digitais, buscando melhorar a eficiência, a experiência do cliente e descobrir novas oportunidades de monetização. Um estudo recente da International Data Corporation (IDC) revelou que 72% das empresas acreditam que “a transformação digital é prioridade para promover as mudanças necessárias em processos, modelos de negócios e ecossistemas”.
É interessante perceber que há setores com ineficiência estrutural geradora de muitas perdas e desperdícios onde a transformação digital pode trazer resultados extraordinários. Setores como transporte, alimentação e construção civil são muito sensíveis a melhorias. Há muito percurso rodado por transportadoras sem carga, assim como há muito alimento desperdiçado e gente passando fome. E o setor de Construção Civil tem em média 35% do seu custo total com retrabalhos e desperdícios, e que investe menos de 1% da receita anual em pesquisas e desenvolvimento.
No Fórum Econômico Mundial de 2016 foi apresentado o relatório “O Futuro da Construção”, preparado em colaboração com o Boston Consulting Group. Segundo estimativa da Boston Consulting Group (BCG), o setor da construção civil poderia economizar anualmente US$ 1,2 trilhão nas fases de projeto e US$ 500 bilhões na fase de operações, somente em projetos não residenciais.
Segundo relatório da McKinsey & Company, só 8% dos canteiros de obras em todo o mundo tomam decisões baseadas em dados em tempo real. Ou seja, ainda há poucas empresas usando o real poder da transformação digital em suas obras. E no caso da construção civil, onde o tema é ainda mais desafiador, estudos mostram uma dificuldade prática de aplicação da transformação digital.
Building Information Modeling (BIM), em português Modelagem da Informação da Construção): segundo um estudo do Fórum Econômico Mundial, é a nova tecnologia com maior probabilidade de aplicação e impacto futuro na construção civil. No Brasil, pelo Decreto 10.306/2020, o governo estabeleceu o uso do método na execução direta e indireta de obras e serviços de engenharia realizados pelos órgãos públicos e entidades da administração pública federal a partir de janeiro de 2021. Espera-se que 50% do PIB da construção civil no Brasil utilize a metodologia e implante o BIM até 2024.
Dentre as novas ferramentas desenvolvidas, a chamada Revolução industrial 4.0 contempla o compartilhamento digital de informações, produção digital (impressoras 3D e customização em massa), robôs construtores, automatização de processos mentais, coleta de dados por sensores e drones, Internet das coisas (IoT), Inteligência artificial (AI), Manufatura aditivada, Realidade virtual (VR), Realidade aumentada (AR), Big Data e ChatGPT.
São diversos os benefícios proporcionados em termos de produtividade, assertividade, flexibilidade e segurança, que podem aprimorar a gestão de equipes e a gestão da qualidade. No caso do setor de Construção Civil, a otimização dos processos pode gerar obras mais rápidas e enxutas, com maior previsibilidade e redução de riscos. Um exemplo de empresa inovadora neste segmento no Brasil é a Método Engenharia, cujo sistema Fast vem obtendo grande aceitação no Brasil. Uma forma simples de perceber seus diferenciais pode ser sintetizado numa frase: reduziram o tempo médio de obra da rede Burger King, um dos clientes da empresa, de 31 para 23 dias! Fica evidente a relação positiva de investimento/retorno numa empresa que obtém desta forma 8 dias a mais de faturamento a cada inauguração, o que cobre qualquer custo adicional ao se trabalhar com turnos longos e com adicional noturno.
Como resultado, toda essa revolução traduz-se no surgimento de novos modelos de negócio. E este é um tema importante de discussão no Conselho das Empresas. Os investimentos em inovação geralmente são elevados e os resultados devem ser coletados ao longo de ciclos de vida a cada dia mais curtos. A estratégia de lançamento de novos produtos e novos mercados deve estar muito azeitada antes de avançar a passos largos, daí a importância da fase piloto. Negócios de base tecnológica apreciam o formato MVP (Mínimo Produto Viável) e buscam acelerar seus lançamentos. No entanto, as equipes de maneira geral não estão preparadas para mudanças bruscas e devem passar por sessões de coaching pra desenvolvimento pessoal e empresarial. A visão estratégica é fundamental na recomendação ou não da adoção de estratégias inovadoras, e decisões colegiadas podem ser altamente desejáveis em cenários turbulentos.